Ontem recebi uma mensagem de
uma mulher que eu não conheço, ela sem ao menos dizer o habitual “oi tudo bem?”
foi direto me perguntando: o que aconteceu pra você ficar tetra plégica? Oie, não sou tetraplégica, tenho movimentos nos
braços e pernas, eles apenas são fracos por causa de uma doença genética (: “Nossa.
Caramba” me respondeu a mulher. E pelo que eu conheço das reações sobre este
assunto, ela deve ter pensado o quanto isso é horrível pra mim. Lembrei então,
o quanto me afetava quando encontrava pessoas como ela, e lembro de tentar
provar que não era horrível não. Lembro de sentir raiva da falta de noção que
muita gente tem. Pelo menos no meu ponto de vista ainda não é aceitável sair
parando as pessoas pelas ruas e perguntando porque elas não andam, por que elas
preferem pessoas do mesmo sexo, por que não emagrecem já que tem um rosto tão
bonito, por que não procuram um tratamento pra calvície, por que usam roupas
pretas e cruz no pescoço, por que elas não são “normais”... Aí lembrei do que
meu pai diz pra mim desde sempre, que as pessoas nunca vão pensar e ter a mesma
noção porque ninguém é igual.
Eu passei a maior parte da
minha vida sendo poupada, indo pra poucos lugares e sempre de carro, com gente
de confiança por perto pra que pudessem cuidar de mim, e eu particularmente com
uma barreira invisível enorme em volta de mim, que não só impedia as pessoas de
entrarem no meu íntimo como também me impedia de sair dele. E poderia ter
permanecido assim, se não fosse a minha mania de sonhar, sonhar acordada
ouvindo música alta, sonhar olhando as ruas passarem rápido enquanto o carro andava,
sonhar enquanto minha família toda saía pra trabalhar e eu ficava sozinha em
casa. E sonhei até decidir pesquisar na internet quais eram os meios possíveis
pra eu alcançar tudo isso. Não demorou muito pra que começassem a se realizar e
aí me deparei com um desafio desconhecido até então: o mundo. Senti muito medo
e uma insegurança grande, bem grande, insegurança de dar minha opinião, de
andar na frente das pessoas, insegurança de sentar e de levantar, insegurança
de mim, insegurança de ser, e principalmente medo de ser abordada por alguém
como a mulher de ontem.
Dessa vez eu não tinha do
meu lado ninguém de confiança pra cuidar de mim, eu tinha um monte de
desconhecidos, e tinha insegurança também de conhecê-los. Eu tinha toda essa
insegurança, mas tinha fé também, e acreditem, ela fez toda a diferença, os
frutos da fé foram novas pessoas em quem eu podia confiar, mas não pra cuidar
de mim e sim pra andar lado a lado, a fé também me moldou pra que eu mesma
pudesse me cuidar, me firmar, pra que eu pudesse ser, pra que eu tivesse pouco
tempo pra sonhar e mais tempo pra realizar, e pudesse desenvolver minha
confiança e não me importar com as perguntas que não diziam “oi tudo bem?”,
porque elas sempre existiriam, delas eu não poderia me livrar porque elas
estavam espalhadas pelo mundo, onde meus sonhos também estavam e eu iria até
eles, de qualquer jeito, e continuo indo, de carro ainda, mas agora também de
ônibus, pelas ruas sendo empurrada na cadeira pelo meu namorado, só não fui de
avião ainda, Londres que me aguarde.
E sobre a mulher de ontem,
me afetou? Negativamente não mais, mas não escondo que ela ganhou alguns
instantes dos meus pensamentos, ganhou até este texto, ganhou minha superação
ao ler a mensagem dela e não sentir nada de ruim, apenas compreensão de que a
ignorância de informações é algo real, mas a ignorância ao responder não faz
mais parte de mim. Eu aceito responder as perguntas, aceito retribuir os
olhares curiosos com um sorriso (às vezes), aceito tentar entrar na faculdade
de LIBRAS que usa 100% a força dos braços mesmo eu não tendo ela toda, aceito
andar de ônibus e subir de elevador, mesmo ele apitando e fazendo questão de
anunciar que eu estou subindo, aceito não ter mais muro invisível, e aceito não
me livrar de tudo isso pra voltar a ser poupada.
Pessoal, podem perguntar, a
cada pergunta menos um desinformado no mundo, não é mesmo. Mas só peço com
carinho, ao menos me cumprimentem antes (:
Boa noite!
ResponderExcluirAcompanho o canal E Libras no YouTube e adoro.
Só hoje percebi que usa cadeira de rodas e de fato me deu curiosidade. Pensei: desde quando? Como nunca notei?
Fico feliz por ter essa visão sobre a vida. Deficientes são os lugares, não as pessoas. No máximo, algumas pessoas são ignorantes (no sentido real).
Continuem sempre com esse canal. Eu adoro